Sigo a pé até o ponto de ônibus mais próximo, vou chegando e já me esquivando pois ali estão pessoas, desconhecidas, a quem tenho vergonha de olhar nos olhos e oferecê-las um simples "bom dia", ufa! o "bonde" está chegando, salvo pelo bonde rsrs. Subo as escadas meio sem prestar atenção, pois isso já é meio automático pra mim, também nem percebo mas não cumprimentei nem motorista nem cobrador, mas enfim eles não precisam do meu "bom dia", olha lá tantas pessoas passando, uma após outra, elas já devem ter dado infinitos "bom dias". E assim passo mais um momento imergido em meus pensamentos de que o mundo não precisa de eu fazendo as mesmas coisas corriqueiras, já existem muitas que fazem essas coisas boas, preciso achar algo novo para contribuir com a sociedade.
Desço no ponto mais próximo ao meu destino e sigo no ritmo da música que soa dos meus sagrados fones (sagrados sim, porque você já imaginou se eu esquecesse deles?), Atravesso ruas e percebo motoristas que também seguem suas vidas, e esquina após esquina esquecem de ligar seus piscas, não avisando uma conversão, quase me distraio e quase um desses motoristas desatentos me atinge, penso em xingá-lo, mas o xingamento permanece apenas no pensamento mesmo, vai saber né. Sigo caminhando em meio á raiva que tive de quase ser atropelado, mas mesmo assim na próxima esquina resolvo ser "vida loka" e atravessar fora da faixa, anulando completamente meu direito de ter (quase) xingado o cara da esquina anterior, mas nem percebo essa ironia, apenas caminho.
Chego no meu destino, não com alegria, mas com o peso de mais um dia falido da minha existência, onde nada que eu faça mudaria alguma coisa. Até dou alguns "bom dias" pelos corredores, mas nunca serão realmente "bons dias" de fato. Só alguma coisa automática que nesse ambiente nem me dou conta.
Percebo alguém distante, com olhar de poucos amigos, deve ter ocorrido algo triste ou sei lá, enfim, não é comigo, nem nunca conversei direito com a pessoa, nem vou me meter. Alguém também vai perceber e vai consolá-la, com certeza.
Tiro meus fones, sento no meu lugar que já é marcado desde sempre, abro minha bolsa, mochila ou o que eu tiver levado nesse dia, tiro meus materiais, e começo o meu trabalho diário, e chato!
Ouço vozes, o instrutor já está na frente explicando coisas, mas minha mente está longe, na verdade nem tão longe, só penso no meu intervalo e quando poderei comer. Por um momento tento me concentrar no que preciso fazer, troco umas palavras com os colegas mais chegados, mas no fundo da alma só consigo ouvir uma única vos: "Quero sumir daqui!". Mas não posso, tenho que aguentar isso se quero ter um futuro melhor, mas que é um saco, isso é.
[...] Enfim chega o meio do dia, cumpri minha obrigação diária, levanto da minha cadeira, coloco novamente meu fone sagrado, vou para outra dimensão, a caminho do tão esperado almoço. Se almoço na rua, como estou de fones, novamente o universo das pessoas alheias a mim não importa, falo com os atendentes do restaurante porque senão não peço a comida, mas se pudesse fazer o pedido via e-mail ou whatsapp, nossa! como facilitaria minha vida. Não gosto muito de contatos pessoais com desconhecidos, (e ás vezes nem com conhecidos).Quando almoço em casa, chego procurando pelo cheiro de comida fresquinha que minha mãe já deixou pronta, mas quando termino nem agradeço afinal minha mãe está em casa, então ela tem que fazer a comida, um "deusqueajude" já basta, mesmo que a comida esteja divina, pra que agradecer ou elogiá-la? Não tenho tempo pra isso. E também ela já sabe que amo sua comida, não preciso falar todo dia. Affe! não sei porque minha consciência ás vezes quer me culpar, credo que chato!
Saio da mesa, ás vezes lavo a louça, (porque é obrigação, deixar claro isso), ás vezes deixo tudo na mesa, saio e vou ligar meu pc, conecto na rede social mais bombada do momento e fico lá, (com meus sagrados fones) tendo uma vida social virtual. Dou uma rodada na timeline, e vou indo, indo, indo até achar algo um pouco interessante, mas até lá já se passaram duas horas. Chamo algum amigo no chat, troco umas idéias, mas quando começam trazer problemas eu já coloco offline, não quero me envolver, pra que? Já tenho os meus problemas, não sei lidar com o dos outros. Volto a rolar a timeline a procura de coisas engraçadas, fotos de gente bonita, e, porque não, fuçando a vida alheia.
Nessa vejo alguma publicação de algum amigo meu que perdeu alguém importante, "puts, que foda" mas não passo disso, não vou mandar alguma msg de conforto né, não é comigo, e esse amigo nem é tão próximo assim, que Deus conforte o coração e a família dele. Vou para as próximas publicações.
Quando me dou conta já é noite, vou postar uma foto minha, reviro meus arquivos e acho uma que estou "top" e acredito que essa vai bater meu record de likes. Dou uma retocada nos meus apps de fotos, coloco uma legenda legal "Viva a vida intensamente", ééééé pensando bem estou colocando uma legenda falsa numa foto falsa mas tudo bem, o que importa é o alcançe das pessoas (haha!), é pensando bem é verdade mesmo, passei o dia deprimido, sem amigos, sem contato humano, vou postar uma foto de pose montada no espelho do banheiro, com um sorriso lindo no rosto, mas hoje mesmo nem lembro se eu sorri, e a legenda "viva intensamente" haha! uma piada para mim mesmo. Fiquei perdido em pensamento tentando descobrir qual parte da minha vida chata foi intensa, só se na chatisse intediante intensa. Mas enfim isso não importa.
Bom olha ai, já é tarde vou comer alguma coisa e dormir, que amanhã começa o dia "intenso" rsrs novamente.
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Quantas vezes esse relato de um dia qualquer não é nossa realidade? Quantas vezes idealizamos uma vida intensa, cheia de coisas legais durante os momentos do dia, mas o que realmente vivemos é apenas uma sombra da vida que almejamos ter? Quantas vezes culpamos pessoas a nossa volta por não termos o que queremos? Somos ingratos, e esquecemos que depende de nós mesmos ter uma vida diferente.
Veja bem, tudo na vida tem esperança, a partir do momento que transformamos essa vida na nossa vida, na minha vida!, o que EU vou fazer para deixar meu dia mais interessante? Começa lá pela manhã em que vc chega no ponto da condução e não quer falar com ninguém, "bom dia" não mata e nem transmite doenças, pelo contrário, nos anima, e nos causa uma sensação diferente de ser algo mais no mundo.
Ver alguém com problemas e ter a oportunidade de ir até lá e perguntar "o que houve?" não é sinônimo de intromissão, mas sim de sensibilidade, de esperança numa humanidade que se diz perdida, aah! mas eu nem conheço tão bem a pessoa, é o que vc diz, mas e se isso for a chance que a vida te dá de conhecer? Se o que aquela pessoa naquele momento precisava ouvir viria de vc? Um novo amigo(a), homem ou mulher da sua vida, ou além disso, uma alma que simplesmente precisava de vc naquele momento.
Deus te dando uma oportunidade para entender porque vc nasceu.
Sua família que faz coisas cotidianas, como o almoço da sua mãe, que vc por achar que é obrigação não comenta nada, sabe, ás vezes sua mãe também sofre, ela também tem problemas, e um elogio pode ser a unica coisa boa que ela vai ouvir em semanas. E vc poderia ser a causa do sorriso dela.
Não viva uma felicidade que vc abre o pacote, cozinha por 3 minutos, come e daqui a pouco estará com fome novamente, não se apegue em coisas futeis, essas coisas não mudam vidas, não preenchem o vazio do peito. São divertidas sim, mas não podem ser vistas como amarras, algemas de status.
Não viva assim, viva de verdade, e ás vezes o intensamente não significa pular de paraquedas, fazer mergulho, escalar uma montanha, viver intensamente ás vezes é poder dar esperança de vida a quem menos achamos que precisa. Sei lá, acho que isso é ser de Deus pra mim!
Jehh Lino
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Ps² Tem alguma sugestão de como podemos melhorar nosso dia a dia? Comente ai embaixo :)
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