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31 de maio de 2011

VI Domingo de Páscoa – Parte II

O que Jesus vê “vivo” ente os seus discípulos é o amor que Ele mesmo deixou plantado e que não morreu sufocado pelas razões privadas, pelo caráter de cada um, pelas visões de vida individualistas. No meio de doze pessoas completamente diferentes e naturalmente pouco compatíveis, Jesus havia deixado semeado o amor, o amor que sabe superar todas as diferenças; um amor que vive, que não pode morrer enquanto os olhares de todos estiverem fixos em Jesus. É um “espírito de amor” que é vivo e age numa comunidade de frágeis homens que se superam continuamente por amor a Jesus.
 
Contudo, enquanto Jesus estará presente visivelmente, de modo histórico e natural, não será possível aos discípulos darem-se conta da grande riqueza que carregam dentro de si, do mesmo modo que nós também percebemos o valor de determinadas coisas apenas quando nos damos contas da sua ausência. A presença e o valor do Espírito, segundo estas palavras, se descobrem a partir do sentimento de “ausência” do Senhor, quando o fiel começa a perceber-se “sozinho” e, no entanto, continua firmemente unido à sua comunidade. O Espírito, acabamos de ler, não é dado a um indivíduo, mas sim à comunidade, à Igreja e se faz «conhecer» através desta. Neste sentido, é claro, podemos aceitar a tradução de “Paráclito” com “Consolador”, ou seja: Ele é Quem se faz sentir quando começa o sentimento de solidão, Quem fica ao lado dos que se sentem “sozinhos”, “órfãos”, “desamparados”.
 
Mas de quem o Espírito defende o fiel e como o faz?
 
Sempre na Escritura o demônio é definido como o “acusador”; ele é o inimigo do homem enquanto o “afasta” de Deus (“afastar-se” de Deus corresponde à expressão: “pecado”; logo, mais que um ato, o pecado é uma atitude, uma posição que assumimos diante de Deus). A perversidade do maligno é paradoxal na Escritura: é acusador enquanto evidencia os erros e pecados que cometemos, exalta-os a ponto de dar-nos a impressão de que Deus nunca irá nos aceitar, perdoar, amar acima dos nossos erros. Veja-se neste sentido o pecado de Davi, a parábola do Filho pródigo, o episódio dos dois malfeitores crucificados com Cristo, etc. O acusador nos faz “esconder” de Deus, da sua Presença, como fez Adão. Dá-nos a ver os nossos erros como centro da nossa vida, exalta o negativo de nós mesmos. Ora, erro é apenas erro, fragilidade é apenas fragilidade... pecado, ao contrário, é exaltação do erro a ponto de tornar-se ponto de separação entre nós e Deus. É não acreditar que para Deus nós valemos mais que os erros que cometemos.
 
O Espírito, agindo numa comunidade que ama, que sabe acolher o erro e limite do irmão, dá a conhecer praticamente como Deus sabe amar, como Deus se importa mais conosco do que com os nossos problemas e limitações que carregamos. O Espírito é o Espírito do “amor de Deus”, não da condenação, da crítica, do julgamento superficial. É o Espírito que “defende” o valor do homem acima dos erros que, porventura, ele possa fazer. Deste modo, quando o fiel entende de ser para Deus mais importante do que qualquer outra coisa, ele pode fazer um ato de profunda liberdade entregando-se ao amor com humildade, sem a presunção de resolver sozinho o seu problema, o seu limite, o seu erro.
 
Ora, para que haja liberdade e humildade é necessário conhecer a “verdade” sobre nós mesmos e sobre o mundo. Então o Espírito age sob dois aspectos: primeiro fazendo com que conheçamos realmente a nós mesmos com os nossos limites e aprendamos a amá-los com a mediação de uma comunidade que nos mostra a verdade sobre nós mesmos e como é possível amar os nossos limites. O segundo aspecto, creio, é o mais importante: o Espírito acusa o próprio acusador. É isto que nos quer dizer o Evangelista João (no capítulo 16,7ss, que não posso transcrever aqui) quando fala do Espírito da Verdade que convencerá o mundo quanto ao pecado e à justiça. Com a força do amor de uma comunidade reunida em nome de Jesus o Espírito declara abertamente a falsidade das perspectivas propostas pelo mal; se opõe à mentira que é a arma do demônio o qual assim confunde o homem oferecendo-lhe a perspectiva de uma realização fácil a baixo custo que não exige quase nada e coincide exatamente com os caprichos de cada um. A coesão no amor é fruto do Espírito, como sempre repetimos nas doxologias das nossas liturgias: “... na unidade do Espírito Santo”, ou seja, na unidade que o Espírito realiza. Ora, esta coesão, esta união é a mais evidente demonstração que a mentira é destinada inevitavelmente a cair deixando atrás de si um rastro de frustração e, como diz a Escritura com uma bela imagem: «ranger de dentes» (arrependimento sem possibilidade de volta). A mentira da auto-suficiência destina o homem à solidão, à destruição das relações e, com elas, também à destruição de si mesmo.
 
Além de dar ao fiel a força do amor, o Espírito de Jesus não trará “novas revelações”, mas uma compreensão maior da única revelação de Cristo: ele “recordará”.
 
A sua função é “recordar”, isto é “trazer ao coração” (conforme a etimologia latina); ou seja: diante de uma situação qualquer, a pessoa que vive a presença de Cristo numa comunidade de fé, saberá como agir sob a orientação do Espírito o qual “recordará” a ele “como” agiu Jesus, como Jesus escolheu, como Ele viveu uma situação análoga... isto para que o agir do fiel possa continuar a manifestar a mesma revelação de Jesus, apesar da mudança dos tempos e culturas. Para que Cristo possa continuar a viver e agir nele.
 
«Não vos deixo... me vereis» é isto o que esperamos sentir, Senhor, é o que esperamos ver, Senhor, para que o mundo creia na Tua bondade e na força do amor que vence!
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Esperamos que todos levem essas palavras para o seu dia. Ficamos por aqui. Esse foi mais um evngélio do dia nas palavras do Pe. Carlo, diretor do Centro Bíblico Regiumdei.

Fiquem na Paz!!

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